Literatura e Vida
Cláudia Maísa
Antunes Lins, educadora do Campus III da UNEB no município de Juazeiro (Ba),
reúne estudantes dos cursos de Pedagogia e Jornalismo no importante Projeto de
Extensão Universitária intitulado: Literatura e Vida.
No presente,
confrontado pelo regime de exceção imposto pela pandemia, o grupo criou uma
plataforma on line ao modo de quem
alimenta a sua fome de vida com a literatura. Estão operando o extraordinário
no trabalho da existência.
A educadora me
convidou para participar dos encontros. Sugeriu que eu escolhesse um autor, uma
obra, que pudesse compartilhar com o grupo para celebrarmos a vida no meio da
nossa quarentena. Escolhi o Ensaio sobre a Cegueira, obra que se inscreveu em minha
alma desde a primeira leitura.
O que me liga
à Professora Maísa é uma cumplicidade existencial de longa data, assim como o
que me liga à obra escolhida. O Ensaio sobre a Cegueira é um livro difícil, uma
sova literária que nos faz pensar sobre como construímos a nossa humanidade e
como criamos regimes de segregações no convívio com as pessoas.
O entra e sai
dos parágrafos opera como um espelho andante das profundezas d’alma, onde as paixões se
excedem, turvam, fixam e normalizam padrões exteriores de beleza. A cegueira,
cegueira bruta, revela-se como um terrível fastio da beleza em potência. O
livro não poupa recursos narrativos para nos mostrar a desordem feia e fedida
das nossas ignorâncias mais elementares sobre nós mesmos. Prisioneiros das imagens
pré-fabricadas que consumimos e que nos consomem, ignoramos nossas potências de
criação de outras formas de beleza.
Por outro
lado, a obra nos oferece metáforas enigmáticas, ao modo de quem indica os
sobejos do ordinário como pequeno banquete para a invenção do novo. Afinal de
contas, a única pessoa que permanece com a visão (a esposa do oftalmologista) é
também a que consegue alçar o extraordinário no meio do caos. E o que nos diz a
imagem do cão das lágrimas? É a beleza do simples, do residual, do lampejo. É
preciso ter olhos para vê-la.
Ler aquela
obra, para mim, nos faz vencer nossas próprias cegueiras. Foi assim que às
vésperas do eclipse penumbral do próximo dia 05 de julho, celebramos a nossa
pertença a esse momento.
Praticando
extensão universitária com literatura e vida reivindicamos a beleza
extraordinária das coisas simples como manifesto de indignação contra o vulgar
que nos envenena e mata no presente.
Comentários
Postar um comentário