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Mostrando postagens de julho, 2020

O Ponto Cego da Educação

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                                                                                                                                     O retorno remoto às aulas produzirá efeitos catastróficos no amplo atendimento do Direito à Educação de toda a população em processo de escolarização no Brasil. O ponto cego da situação remete à amplitude das catástrofes. Levamos quase um século para conseguirmos alcançar a universalidade do Ensino Fundamental na idade juridicamente recomendada pela legislação brasileira. No final dos anos 1990 chegamos à meta de maneira contraditória. Isto porque, a matrícula foi universalizada mas a permanência na escola continua sendo um problema para adolescentes e jovens do campo, das periferias urbanas e, sobretudo, negros e negras, pobres e portadores de deficiências física. A totalidade das jovens e dos jovens que entra na escola pública não consegue concluir por conta da evasão e da repetência provocada pelas condições precárias de existência a que muitos e mui

Aprender em movimento

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Engana-se quem pensa que professores universitários e professoras universitárias se movem exclusivamente por aquilo que já sabem. Nossos movimentos mais produtivos derivam de nossas ignorâncias e dos nossos erros coletivos, sobretudo quando conseguimos transpor as barreiras que nos separam entre nossas salas de aulas, laboratórios e “unidades” de ensino-pesquisa-extensão. Sair do quadrado para confrontar os erros e as ignorâncias inscritos no nosso corpo coletivo na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) foi o que fizemos entre os meses de maio, junho e julho de 2020, quando organizamos o nosso primeiro fórum docente. Nossa universidade foi criada no ano de 2013, somos a última universidade do ciclo dos governos Lula/Dilma (quando a democracia brasileira produzia sinais de vitalidade). As atividades de ensino-pesquisa-extensão tiveram início no ano de 2014, quando chegavam os primeiros e as primeiras estudantes, assim como as docentes e os docentes que por meio de concurso púb

Literatura e Vida

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Foto Claudia Maísa Antunes Lins Cláudia Maísa Antunes Lins, educadora do Campus III da UNEB no município de Juazeiro (Ba), reúne estudantes dos cursos de Pedagogia e Jornalismo no importante Projeto de Extensão Universitária intitulado: Literatura e Vida. No presente, confrontado pelo regime de exceção imposto pela pandemia, o grupo criou uma plataforma on line ao modo de quem alimenta a sua fome de vida com a literatura. Estão operando o extraordinário no trabalho da existência. A educadora me convidou para participar dos encontros. Sugeriu que eu escolhesse um autor, uma obra, que pudesse compartilhar com o grupo para celebrarmos a vida no meio da nossa quarentena. Escolhi o Ensaio sobre a Cegueira, obra que se inscreveu em minha alma desde a primeira leitura. O que me liga à Professora Maísa é uma cumplicidade existencial de longa data, assim como o que me liga à obra escolhida. O Ensaio sobre a Cegueira é um livro difícil, uma sova literária que nos faz pensar sobre como con

O desmanche da educação

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                                                        Foto do Autor Enquanto o atual governo não indica aquele que será o seu quarto ministro da educação em menos de dois anos de mandato, assistimos o agravamento do desmanche das políticas educacionais. O que era péssimo nos anos anteriores à ascensão do bolsonarismo, piorou desde 2019. No ano de 2015 Dilma Roussef assumiu o seu segundo mandato com o lema: Brasil Pátria Educadora. A presidenta, como bem sabemos, não chegou ao fim do seu mandato. Foi derrubada por um golpe midiático-parlamentar-judicial que esbanjou no uso e abuso da lei para a defesa de interesses inconfessáveis do mercado. Durante o governo Temer, com o parlamento em pleno modo golpista de funcionar, foi aprovada uma Reforma do Ensino Médio, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Emenda Constitucional 95 (que limita os investimentos em educação). Reformismo benemérito dos empresários da educação e carrasco do setor público projetado nos gabinetes do PSDB e DE

Memórias do Presente

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Seca de Itajuípe (Ba) 2015 -Foto do Autor Era o ano de 2015. Eu tinha acabado de me instalar no município de Itajuípe, no Sul da Bahia. Os caminhos da educação me levaram àquela que seria a primeira morada desde que assumi minhas atividades na Universidade Federal do Sul da Bahia. A primeira vez que estive no município foi para proferir palestra de abertura da Jornada Pedagógica Municipal do ano de 2008. A visão do lago e da torre da igreja me capturaram de primeira.  Poucos meses depois da minha instalação (no mês de julho daquele ano)  uma grande seca se abateu sobre o local. O lago cheio de vida tornou-se um cemitério de raízes expostas. Estávamos cercados de verde por fora e cinza, muito cinza, por dentro dos mananciais de água que tínhamos por perto. Tudo que aflorava lembrava fraturas expostas da alma da terra. Hoje, no início do segundo semestre do ano de 2020, todos os caminhos me levam de volta àquela tragédia da seca na Costa do Cacau, cenário das obras literárias de Jorge Am