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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Sociabilidades interrompidas

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  Estamos concluindo as atividades letivas com os primeiros grupos de estudantes que ingressaram na universidade durante a pandemia. As formações das turmas de ingresso enfrentam limites impostos pelo trabalho remoto, um deles, específico da geração que ainda não pisou no chão da universidade, tem sido a produção de vínculos sociais, presencialmente, com colegas e professores. O momento nos impõe formas de convivência transpassadas por inúmeras interdições. A vida social na sala de aula offline extrapola as relações pedagógicas restritas aos processos de ensino-aprendizagem em muitos aspectos. Tornar-se parte de uma turma tem os seus rituais próprios, muitos deles exigem a proximidade física no espaço e no tempo, para a criação e aprofundamento dos laços de pertencimento com a turma e com universidade como um todo. As novas invisibilidades produzidas pelo trabalho online , associadas com a instabilidade das presenças, resultam na interrupção de processos interativos fundamentais para

Religião e Fake News

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  Uma amiga alemã revelou-me que a mãe resiste à vacina contra a covid-19 por motivos religiosos. O padre da sua paróquia, na região da Bavária, recomendara aos fiéis a renúncia ao medicamento para não fortalecerem a vida no pecado. Quis saber mais sobre aquele intrigante drama cristão (católico apostólico romano). A amiga resumira o sermão que a mãe ouvira na missa online . Durante a liturgia daquele dia o padre descrevera a vacina que circula no interior da Alemanha, como um composto à base de placenta originária de processos abortivos. Narrava o ocorrido com a perplexidade da primeira vez que ouvira o “absurdo” dos fatos. Enquanto ouvia o relato, lembrava-me de uma breve passagem da Miséria da Filosofia, de Karl Marx (o texto original fora escrito entre 1846-1847). A certa altura da obra, o pensador alemão nos indica que a diferença entre o cristão e o filósofo é que o primeiro conhece apenas uma forma de racionalidade, o outro é obrigado a conhecer o maior número de racionalida

Silêncio Cidadão

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  O dia 17 de janeiro de 2021 entrou para a história da educação brasileira como dia do silêncio cidadão. A maior abstenção já registrada na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) indica, em números oficiais que 2.842.332 (dois milhões, oitocentos e quarenta e dois mil, trezentos e trinta e dois) jovens não se apresentaram para a realização das provas aquele dia. Não é só um número com sete dígitos, é expressão de um dos mais significativos protestos silenciosos do nosso tempo. O Ministro da Educação qualificou o acontecimento como um sucesso (festejando a presença dos que compareceram às provas). A perspectiva daquele que também é a maior autoridade no assunto faz sentido do ponto de vista das ações e omissões do governo a que serve. Governo diletante do negacionismo da ciência porque fraco na capacidade pensante e intolerante a qualquer expressão de pensamento crítico. Governo militante da obediência cega à Bíblia, ou à bala. Governo inoperante em qualquer setor da vid