Hoje os hospitais, amanhã as escolas.

 

As instituições que cuidam da saúde coletiva desempenham no atual contexto da pandemia um papel inspirador para os desafios a serem enfrentados pelas as instituições que cuidam da educação pública no contexto pós pandemia.

Ficar em casa para cuidar de si e dos outros é um ato de cidadania que se qualifica e nos qualifica para lidarmos com o presente, graças aos imensos avanços do conhecimento científico no âmbito da saúde coletiva. Voltar às ruas e praticar a vida pública, após a garantia do tratamento eficaz contra a Covid-19, exigirá a qualificação de nossas atitudes cidadãs na e com as escolas, sobretudo se considerarmos a educação como atitude sensível-inteligível que opera e amplia os sentidos sociais dos nossos pertencimentos. Sair do isolamento exigirá reaprendizagens no trato social com a vida cidadã que só nas escolas podemos aprender.

Os parágrafos que iniciam este breve ensaio foram produzidos no exercício de resposta a questão lançada por uma professora de escola pública com quem eu interagia numa live sobre a construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) face aos desafios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no processo de reestruturação do Ensino Médio. A professora Thalita Quinto Soares, do Colégio Estadual Professor Jairo Alves Ferreira – no município de Eunápolis – perguntou o seguinte: considerando o atual contexto, como fazer o aluno desenvolver um sentimento de pertencimento à comunidade escolar por meio do PPP da escola? Considerei a questão da maior relevância para pensarmos a escola como um espaço-tempo fundamental para a construção social dos sentidos do pertencimento comunitário.

Comecei a responder com as frases que conferem título a esse texto: hoje os hospitais, amanhã as escolas. Antes de prosseguir com a minha resposta, alertei que aquela pergunta abria caminhos para muitas reflexões, logo conferia possibilidades para muitas respostas.

Fiz algumas ponderações que aqui expresso de maneira mais elaborada, sob o ir e vir da experiência que provocou as primeiras tentativas participar da conversa com a professora. Suspeito que teremos que pensar mais sobre as experiências que ampliam nossas formas de querer-saber na e com a escola, para efetivamente cumprirmos a missão histórica da saída do isolamento social, a partir do extraordinário do presente vivido. Cumpre-nos não ignorar que além da eficiência racional do conhecimento científico, a ciência inspira hoje a sensibilidade pelo cuidado com a vida nossa e daquelas pessoas de quem somos mais próximos. Não é só a razão instrumental que nos ajuda a enfrentar a pandemia, é a razão vital que estende de maneira fenomenal as sensibilidades necessárias para querer-viver, apesar das dores cívicas provocadas pelas milhares de mortes que transpassam nossos dias.

Na escola a produção dos sentidos do pertencimento articula de maneira indissociável o querer-saber ao querer-viver. Outrossim, a escola é, ainda, a instituição que nos ensina a vida pública quando nos colocamos a caminho dela, cruzando ruas, avenidas e praças públicas orientados pelos saberes-poderes próprios da vida escolar.

Os horizontes dessa utopia inexorável do nosso presente, que chamamos de contexto pós pandemia, sugerem ver e compreender a escola por dentro e por fora. Pelas entradas e saídas que ela coloca a serviço do nosso trânsito cultural no mundo. Também pelas potências de vida que tanspassam salas de aulas, corredores, pátios, bebedouros e banheiros.

Quero com isso dizer que tanto os saberes oficiais que fazem da escola: Escola, quanto os saberes vivenciais que fazem da escola: Escolas, são de extrema relevância para chegarmos ao tempo da saída do isolamento social com a garantia exercício da vida pública, qualificada pelas formas de conhecimento produzidas pela experiência intelectual advinda das práticas de ensinar-aprender.

Quis dizer aos professores e às professoras com quem compartilhei aquela rica conversa sobre a escola, que as respostas mais pertinentes tanto para a expansão das nossas sensibilidades de pertencimento à vida social, quanto para o retorno copresencial à vida pública apontam para as escolas como as instituições mais importantes para a expansão da vida pós pandemia.


Comentários

  1. Excelente e oportuno. Clareza nos pontos da defesa da Escola como instituição mais importante da pós pandemia. Inspirador para desdobramentos. Tema tem a mobilização da sociedade. Parabéns Alamo!! Gostei demais!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A universidade e a construção do futuro no presente.

Confluências grevistas na reconstrução da vida pública.

Intolerância Organizada