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Mostrando postagens de agosto, 2020

Para um governo nulo, meia escola basta.

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  A publicação da Medida Provisória 934 (que flexibiliza o ano letivo de 2020) é um atestado público da nulidade do atual governo no trato com as políticas educacionais. A MPV isenta os sistemas públicos e privados de educação do cumprimento dos dias letivos do ano vigente, mantém a obrigatoriedade da carga horária anual com a possibilidade de expansão para 2021 e retira a obrigatoriedade do investimento financeiro por parte da União para a garantia das condições de funcionamento dobrado dos fluxos de escolarização. Os vetos presidenciais que acompanham a publicação transferem para as comunidades escolares a solução de uma das mais estranhas equações do momento: dois anos letivos para meia escola e um governo nulo. A nova norma permite que os sistemas educacionais atendam em regime de duplicidade de vínculo às estudantes e aos estudantes das diferentes etapas e modalidades de ensino, da Educação Infantil ao Ensino Superior no ano que vem. As diretrizes para que isso ocorra ainda

O rascunho e a rasura

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  As políticas educacionais no presente são objetos de disputa da direita. Duas performances diferenciam os seguidores do Olavismo-Bolsonarista e os mercantilistas da linhagem Maia-Dória: o rascunho e a rasura. Os moralistas que ocupam o Ministério da Educação não conseguem apresentar um programa de governança, insistem na pauta dos costumes e se notabilizam pela incorreção de propósitos marcada por sérios transtornos verbais e ortográficos. O ex-ministro de sobrenome impronunciável e comportamento público inaceitável se tornou um ícone deste modelo de gestão. Fazia uso de rascunhos para despachar no twitter e no seu gabinete. O único programa de sua gestão com mais de um parágrafo escrito, o Future-se, passou por várias revisões desde a primeira versão, não saiu do rascunho (nem do papel). Os mercantilistas da linhagem Maia-Dória, portadores de uma tradição que ganha força com a ancestralidade privatista originada em Collor e notabilizada por Fernando Henrique Cardoso (FHC), oper

Primeiro a vida das pessoas, depois a vida das instituições.

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No último dia 04 de agosto o apelo do Secretário Geral da ONU, António Guterres, para a reabertura das escolas “onde a pandemia estiver controlada”, causou-me inquietações. De súbito me veio a pergunta: em que lugar do mundo a pandemia está controlada? Antes de chegar à resposta, outras perguntas: a preocupação do Secretário enfatiza a vida das instituições, ou a vida das pessoas? Pode a escola assegurar de modo indissociável o direito à educação e o direito à vida no presente? E o que dizer da divisão social das escolas no mundo, onde o direito à vida é mais um problema dos pobres do que dos ricos? Enquanto busco respostas, em meio a enxurrada de questões que me coloco como educador, permito-me divergir quanto ao efeito catastrófico anunciado pela ONU. Duvido muito que, em algum lugar do mundo, haja condições de retorno às aulas por meio presencial sem o risco de expansão da pandemia. Suspeito que nem mesmo as instituições educacionais que primam pelo investimento privado nas melh

A transição interrompida

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A transição curricular do Ensino Médio foi bruscamente interrompida com a suspensão das aulas por conta da pandemia. Além da confusão na coexistência entre modelos vigentes e modelos emergentes, as jovens e os jovens que ingressaram no Ensino Médio este ano permanecem sem saber exatamente a que currículo pertencem. A maioria dos estados brasileiros optou por fazer a transição curricular gradualmente, iniciando pelo primeiro ano do Ensino Médio e por conjuntos de escolas-piloto em 2020. No caso do estado da Bahia, com uma rede de aproximadamente 1370 escolas estaduais, a Secretaria da Educação selecionou 565 unidades escolares para realizar a implementação este ano. Apesar das escolas eleitas estarem elaborando Programas de Flexibilização Curricular desde 2019, a maioria das professoras e professores, assim como funcionários e funcionárias, estudantes e suas famílias só tiveram conhecimento das mudanças curriculares na jornada pedagógica no mês de fevereiro deste ano, no mês de março