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Confluências grevistas na reconstrução da vida pública.

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  “Confluência é a lei que rege a relação de convivência entre os elementos da natureza e nos ensina que nem tudo que se ajunta se mistura, ou seja, nada é igual. Por assim ser, a confluência rege também os processos de mobilização provenientes do pensamento plurista dos povos politeístas” Nego Bispo.   A greve das servidoras e dos servidores públicos federais da educação produziu importantes confluências nos cenários geopolíticos do país. Inscreveu a participação da classe trabalhadora nos processos de reconstrução da vida pública nacional, acentuando importantes contrapontos com classes dirigentes das instâncias governamentais. Expandiu redes de sociabilidades sindicais no interior de Instituições Federais de Ensino (IFEs) marcadas por interdições sanitárias recentes, por efeitos de eventos climáticos extremos, pelos ataques à democracia e pela ascendente precarização das condições laborais. O movimento grevista articulou múltiplas redes de força em escalas nacional e local, di

Comunidades-escola

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              A realização do I Fórum Comunitário das populações atingidas pelas enchentes em Santa Cruz Cabrália redefiniu as paisagens da Escola Municipal Antonio Sambrano Guerra.  As comunidades na escola articularam a constituição de comunidades-escola, múltiplas em suas identidades originárias e singulares na territorialização escolar. Corpo social multifacetado movido por aprendizagens enraizadas nas experiências com os desastres ambientais. A escola situa-se no bairro Capitão Luiz de Matos, mais conhecido como Sapolândia, um dos locais mais afetados pelos efeitos das catástrofes de 21 de abril de 2023. O movimento comunitário constituído no enfrentamento da tragédia ambiental alterou os modos de ver, dizer e viver a escola. Ao longo de todo o dia 20 de maio de 2023, as mais de 290 (duzentos e noventa) presenças que transitaram no Fórum ultrapassaram barreiras visíveis e invisíveis que separam a escola da comunidade. Eram 10 (dez) comunidades ao todo. O evento viabilizou a real

Intolerância Organizada

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  A intolerância religiosa manifesta um dos mais violentos atentados contra a vida. Uma vez praticada, afeta corpo e alma das pessoas e de todas das formas expandidas do sagrado que celebram a fé. Nas religiões de matrizes indígenas e afro-brasileiras as matas com toda a sua biodiversidade constituem os territórios do sagrado. Nas tradições cristãs, atos e palavras, assim como os templos que reúnem fiéis são transpassados pela presença do divino. Quando a intolerância religiosa ofende ou ataca corpos e templos de celebração da fé, opera violações em escala imensurável. No dia 10 de maio passado o Centro Espírita União, Amor e Caridade, localizado no município de Juazeiro da Bahia, foi violentamente atacado. Fundado no ano de 1947, a casa religiosa reúne uma das mais antigas e respeitadas comunidade umbandista juazeirense. Durante o ritual sagrado das quartas feiras a porta principal do Centro foi arrombada a socos, pontapés e pedradas. Entre o susto com a violência praticada e a part

Partilhas Territoriais

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  Fonte: PTDSS TI Costa do Descobrimento (2016)      O mês de fevereiro foi marcado por uma intensa mobilização de partilhas territoriais no contexto de composição do Plano Plurianual (PPA) do Governo do Estado da Bahia. Organizados e organizadas sob a forma de dez Grupos de Trabalho Territoriais (GTTs) e orientados e orientadas pela metodologia da Escuta Social, as participantes e os participantes dos Territórios de Identidade destacaram problemas e elegeram propostas que devem compor a agenda de investimentos públicos do Governo do Estado no período de 2024-2027. A rica experiência nos GTTs também fortaleceu os laços de cooperação entre as Instituições de Ensino nos territórios.      No âmbito do Território de Identidade da Costa do Descobrimento, por exemplo, o GTT 1 – correspondente ao eixo de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação - reuniu representantes da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) e da Univers

Virada Histórica

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  Foto de Júlio Cézar Chaves Estamos às vésperas da maior “virada de página” da história recente do nosso País.   Estamos livres do atraso personificado na figura medonha do genocida que fugiu para Miami. Entramos no modo de participação, em casa assim como em Brasília, da instalação de um governo que nos devolve a imagem renovada do pluralismo cheio de cores da nossa democracia. As imagens e narrativas esperadas de amanhã inspiram a imaginação de um país em que a diversidade e a diferença alimentam o desejo de participação na vida pública.  Saem de cena as performances mórbidas entre o cercadinho do Planalto e o monocromático cenário do home office presidenciais. Sobem a rampa do Planalto, juntamente com o presidente e vice presidente eleitos, os milhões de brasileiros que participam do maior esforço coletivo que se tem notícia na história recente do Brasil na retomada da democracia.                        Lula, Alckmin e o ministério escalado neste início de governo nos conduzem

Para espantar pedagogias sem rosto, pedagogias cantadas (encantadas).

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                                                                                   Foto de Denise Comerlato “A gente pode estar com muita dificuldade com a luta. Quando a gente coloca o pé na terra, quando sente o gemido da terra, escuta o seu chamado, a gente sabe como vai seguir os nossos passos, porque estamos ouvindo. Ela está dando direção pra gente. Foi feito este trabalho nas nossas retomadas: o nosso escutar” (Mestra Mayá)                   A voz de Maria Muniz Andrade Ribeiro, Mestra Mayá, abriu a retomada das atividades presenciais da Licenciatura Intercultural Indígena do Instituto Federal da Bahia (IFBA), campus Porto Seguro, na manhã da última segunda feira – 23 de maio. A palavra falada e cantada da educadora Pataxó Hã hã hãe conduziu o repovoamento indígena e não indígena do auditório do IFBA, antes esvaziado pelos efeitos mais duros da pandemia. No transcurso do momento era lançado o livro “A Escola da Reconquista”, obra da educadora indígena organizada por Rosângel

Da disseminação do ódio à naturalização da maldade.

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  “Em um país distante existiu faz muitos anos uma Ovelha negra. Foi fuzilada. Um século depois, o rebanho arrependido lhe levantou uma estátua equestre que ficou muito bem no parque. Assim, sucessivamente, cada vez que apareciam ovelhas negras eram rapidamente passadas pelas armas para que as futuras gerações de Ovelhas comuns e vulgares pudessem se exercitar também na escultura”. (Augusto Monterroso)                 O bolsonarismo, força ideológica emergente do ciclo mais recente das disputas políticas brasileiras, também se constitui como uma das mais potentes maquinarias de conversão de afetos. Destrói e extermina pessoas e instituições públicas. Acelera a produção do ódio assim como a naturalização da maldade.                 Ao longo dos últimos quatro anos temos assistido às mais assustadoras séries – quase ininterruptas – da destruição de pessoas, processos e bens públicos combinada com um desconcertante conservadorismo festivo. Os atos de contestação tem sido cada vez ma