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Marcas do autoritarismo na UFSB

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    A Universidade Federal do Sul da Bahia entra na sua segunda consulta pública para a escolha de reitora, reitor e vice-reitora, vice-reitor em contexto de ascensão e agravamento do autoritarismo dentro e fora da cena universitária. Implementada no início da maior crise contemporânea da democracia brasileira, a UFSB saiu de uma governança  pro tempore  para uma governança eleita (e nomeada) sem se desvencilhar das práticas autoritárias que pressionaram as suas primeiras “eleições gerais”.                    A primeira consulta ocorreu em novembro do ano de 2017. Na cena nacional consolidavam-se os processos reformistas mais violentos do governo golpista liderado por Michel Temer. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) imposta pelo governo com o investimento filantrópico de fundações da iniciativa privada se firmou na cena. No mês de fevereiro daquele ano fora aprovada a Lei 13.415, efetivando a Reforma do Ensino Médio. As ações do Movimento Escola Sem Partido associavam-se às açõe

Escolas de Solidariedade

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  Escolas públicas municipais e estaduais, da cidade, do campo, indígenas e quilombolas constituem importantes meios de reconstrução social das condições de vida no contexto presente do estado da Bahia. Sobretudo nos territórios de identidade das Regiões Sul e do Extremo Sul, severamente afetados pelas tempestades que devastam nossas comunidades desde o final do mês de novembro. As escolas abriram suas portas para abrigar pessoas que perderam suas casas e a maior parte dos seus bens. Coletivos se formaram para a produção de alimentos, arrecadação e distribuição de donativos e acompanhamento psicossocial das milhares de famílias que enfrentam, a um só tempo: o luto das suas perdas, as vulnerabilidades sanitárias causadas pela persistência da COVID-19 e pelo avanço da Influenza (Gripe H3N2) e a manutenção da vida no meio de tantas tragédias. Práticas intensivas de solidariedade tecem e fortalecem redes que passam por dentro das escolas públicas, transformando seus estatutos pedagógic

Pedagogias do estranhamento

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  Passamos por um dos piores momentos da pandemia do coronavírus no Brasil e no mundo. Além do aumento expressivo de casos, da evidente omissão do governo brasileiro (com o agravante discurso negacionista do Presidente da República), assistimos a ultrapassagem dos 240 mil mortos sob efeito de uma aparente “naturalização” do estado de calamidade sanitária em que nos encontramos.   Não compreendo a naturalização como o oposto do estranhamento, compreendo-a  como uma das forças emergentes de situações radicalmente diferentes daquelas que estamos habituadas e habituados a enfrentar no cotidiano. O outro processo derivado do estranhamento é a compreensão do inacabado, do social em se fazendo às margens das incertezas. Tanto um quanto outro processos são construídos socialmente. Com isso quero afirmar que o estranhamento é uma potência geradora de forças de naturalização ou de inquietação no trato social com as situações que tomamos por outras nas nossas experiências de convívio cotidiano. O

Sociabilidades interrompidas

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  Estamos concluindo as atividades letivas com os primeiros grupos de estudantes que ingressaram na universidade durante a pandemia. As formações das turmas de ingresso enfrentam limites impostos pelo trabalho remoto, um deles, específico da geração que ainda não pisou no chão da universidade, tem sido a produção de vínculos sociais, presencialmente, com colegas e professores. O momento nos impõe formas de convivência transpassadas por inúmeras interdições. A vida social na sala de aula offline extrapola as relações pedagógicas restritas aos processos de ensino-aprendizagem em muitos aspectos. Tornar-se parte de uma turma tem os seus rituais próprios, muitos deles exigem a proximidade física no espaço e no tempo, para a criação e aprofundamento dos laços de pertencimento com a turma e com universidade como um todo. As novas invisibilidades produzidas pelo trabalho online , associadas com a instabilidade das presenças, resultam na interrupção de processos interativos fundamentais para

Religião e Fake News

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  Uma amiga alemã revelou-me que a mãe resiste à vacina contra a covid-19 por motivos religiosos. O padre da sua paróquia, na região da Bavária, recomendara aos fiéis a renúncia ao medicamento para não fortalecerem a vida no pecado. Quis saber mais sobre aquele intrigante drama cristão (católico apostólico romano). A amiga resumira o sermão que a mãe ouvira na missa online . Durante a liturgia daquele dia o padre descrevera a vacina que circula no interior da Alemanha, como um composto à base de placenta originária de processos abortivos. Narrava o ocorrido com a perplexidade da primeira vez que ouvira o “absurdo” dos fatos. Enquanto ouvia o relato, lembrava-me de uma breve passagem da Miséria da Filosofia, de Karl Marx (o texto original fora escrito entre 1846-1847). A certa altura da obra, o pensador alemão nos indica que a diferença entre o cristão e o filósofo é que o primeiro conhece apenas uma forma de racionalidade, o outro é obrigado a conhecer o maior número de racionalida

Silêncio Cidadão

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  O dia 17 de janeiro de 2021 entrou para a história da educação brasileira como dia do silêncio cidadão. A maior abstenção já registrada na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) indica, em números oficiais que 2.842.332 (dois milhões, oitocentos e quarenta e dois mil, trezentos e trinta e dois) jovens não se apresentaram para a realização das provas aquele dia. Não é só um número com sete dígitos, é expressão de um dos mais significativos protestos silenciosos do nosso tempo. O Ministro da Educação qualificou o acontecimento como um sucesso (festejando a presença dos que compareceram às provas). A perspectiva daquele que também é a maior autoridade no assunto faz sentido do ponto de vista das ações e omissões do governo a que serve. Governo diletante do negacionismo da ciência porque fraco na capacidade pensante e intolerante a qualquer expressão de pensamento crítico. Governo militante da obediência cega à Bíblia, ou à bala. Governo inoperante em qualquer setor da vid

A Casa de Elba

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  Antes de chegarmos a 2021 ganhamos de Elba Ramalho a melhor metáfora para pensarmos o Brasil no contexto da pandemia: uma casa arrendada cujo contrato não possui cláusulas sanitárias de preservação da saúde pública. Os donos da casa se transferiram para o clube bacana da esquina e receberam notícias pelas redes sociais do rendezvous na propriedade. Elba está nos ajudando a redescobrir no Brasil no balancê da pandemia. Seria um luxo, não fosse a miséria dos nossos dias ao longo desse difícil ano de 2020 (que terá a duração de uma eternidade para as famílias dos mais de 195 mil brasileiros e brasileiras que se foram). Somos a Casa de Elba na política. A direita brasileira transferiu a governança do país para um bando de tresloucados, passa as férias em Miame enquanto se diz arrependida das escolhas que fez, promete dar o troco nas eleições da Câmara dos Deputados mas não move os dedos para o impeachment . No caso de Elba, a estrela prometeu processar os locatários da sua casa, há