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Serviçais da repressão.

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  O bolsonarismo criou metodologia própria para a qualificação dos serviçais dedicados à agência da repressão do seu governo. Ataca a autonomia e a democracia interna das universidades ao nomear reitoras e reitores não eleitas e eleitos pela maioria das comunidades acadêmicas; ao mesmo tempo em que expõe a subserviência de intelectuais a serviço do seu padrão repressivo. As interventoras e interventores empossados nas instituições federais de ensino brasileiras já ultrapassam mais de uma dúzia de corpos atuantes nos jogos de poder que ultrapassam os cercadinhos do Planalto, e se inscrevem no coração das universidades e institutos federais. Elas e eles estão ali disponíveis para garantir ao atual governo o que parece lhe faltar: qualidade intelectual onde impera a grosseria gratuita e a negação da ciência. As performances que identificam as novas interventoras e interventores começam expor alguns dos seus traços mais expressivos. Ao aceitarem o lugar em que são colocadas e colocados

Novas invisibilidades, velhas desigualdades

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  A retomada das atividades letivas por meio remoto na nossa universidade produziu novas formas de invisibilidade nas relações de ensino-aprendizagem. Além da elevação expressiva do número das ausências nos ambientes virtuais de aprendizagem, as presenças se tornaram mais instáveis (conforme as condições de conectividade) e mais silenciosas no transcurso dos encontros on line . As novas formas de invisibilidade produzidas pela mudança radical da modalidade de ensino no contexto da pandemia resultam da persistência de velhas formas de desigualdade social nas condições de acesso e permanência na universidade. A passagem do modelo presencial para o modelo virtual expõe de maneira constrangedora o fosso das desigualdades no acesso a bens e serviços tecnológicos. Falta pouco para a conclusão das nossas atividades com as turmas de graduação e pós graduação. Em todos os níveis de ensino recebemos, aqui e ali, mensagens de estudantes com relatos de dificuldades para o acompanhamento das at

Hoje os hospitais, amanhã as escolas.

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  As instituições que cuidam da saúde coletiva desempenham no atual contexto da pandemia um papel inspirador para os desafios a serem enfrentados pelas as instituições que cuidam da educação pública no contexto pós pandemia. Ficar em casa para cuidar de si e dos outros é um ato de cidadania que se qualifica e nos qualifica para lidarmos com o presente, graças aos imensos avanços do conhecimento científico no âmbito da saúde coletiva. Voltar às ruas e praticar a vida pública, após a garantia do tratamento eficaz contra a Covid-19, exigirá a qualificação de nossas atitudes cidadãs na e com as escolas, sobretudo se considerarmos a educação como atitude sensível-inteligível que opera e amplia os sentidos sociais dos nossos pertencimentos. Sair do isolamento exigirá reaprendizagens no trato social com a vida cidadã que só nas escolas podemos aprender. Os parágrafos que iniciam este breve ensaio foram produzidos no exercício de resposta a questão lançada por uma professora de escola públ

Para um governo nulo, meia escola basta.

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  A publicação da Medida Provisória 934 (que flexibiliza o ano letivo de 2020) é um atestado público da nulidade do atual governo no trato com as políticas educacionais. A MPV isenta os sistemas públicos e privados de educação do cumprimento dos dias letivos do ano vigente, mantém a obrigatoriedade da carga horária anual com a possibilidade de expansão para 2021 e retira a obrigatoriedade do investimento financeiro por parte da União para a garantia das condições de funcionamento dobrado dos fluxos de escolarização. Os vetos presidenciais que acompanham a publicação transferem para as comunidades escolares a solução de uma das mais estranhas equações do momento: dois anos letivos para meia escola e um governo nulo. A nova norma permite que os sistemas educacionais atendam em regime de duplicidade de vínculo às estudantes e aos estudantes das diferentes etapas e modalidades de ensino, da Educação Infantil ao Ensino Superior no ano que vem. As diretrizes para que isso ocorra ainda

O rascunho e a rasura

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  As políticas educacionais no presente são objetos de disputa da direita. Duas performances diferenciam os seguidores do Olavismo-Bolsonarista e os mercantilistas da linhagem Maia-Dória: o rascunho e a rasura. Os moralistas que ocupam o Ministério da Educação não conseguem apresentar um programa de governança, insistem na pauta dos costumes e se notabilizam pela incorreção de propósitos marcada por sérios transtornos verbais e ortográficos. O ex-ministro de sobrenome impronunciável e comportamento público inaceitável se tornou um ícone deste modelo de gestão. Fazia uso de rascunhos para despachar no twitter e no seu gabinete. O único programa de sua gestão com mais de um parágrafo escrito, o Future-se, passou por várias revisões desde a primeira versão, não saiu do rascunho (nem do papel). Os mercantilistas da linhagem Maia-Dória, portadores de uma tradição que ganha força com a ancestralidade privatista originada em Collor e notabilizada por Fernando Henrique Cardoso (FHC), oper

Primeiro a vida das pessoas, depois a vida das instituições.

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No último dia 04 de agosto o apelo do Secretário Geral da ONU, António Guterres, para a reabertura das escolas “onde a pandemia estiver controlada”, causou-me inquietações. De súbito me veio a pergunta: em que lugar do mundo a pandemia está controlada? Antes de chegar à resposta, outras perguntas: a preocupação do Secretário enfatiza a vida das instituições, ou a vida das pessoas? Pode a escola assegurar de modo indissociável o direito à educação e o direito à vida no presente? E o que dizer da divisão social das escolas no mundo, onde o direito à vida é mais um problema dos pobres do que dos ricos? Enquanto busco respostas, em meio a enxurrada de questões que me coloco como educador, permito-me divergir quanto ao efeito catastrófico anunciado pela ONU. Duvido muito que, em algum lugar do mundo, haja condições de retorno às aulas por meio presencial sem o risco de expansão da pandemia. Suspeito que nem mesmo as instituições educacionais que primam pelo investimento privado nas melh

A transição interrompida

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A transição curricular do Ensino Médio foi bruscamente interrompida com a suspensão das aulas por conta da pandemia. Além da confusão na coexistência entre modelos vigentes e modelos emergentes, as jovens e os jovens que ingressaram no Ensino Médio este ano permanecem sem saber exatamente a que currículo pertencem. A maioria dos estados brasileiros optou por fazer a transição curricular gradualmente, iniciando pelo primeiro ano do Ensino Médio e por conjuntos de escolas-piloto em 2020. No caso do estado da Bahia, com uma rede de aproximadamente 1370 escolas estaduais, a Secretaria da Educação selecionou 565 unidades escolares para realizar a implementação este ano. Apesar das escolas eleitas estarem elaborando Programas de Flexibilização Curricular desde 2019, a maioria das professoras e professores, assim como funcionários e funcionárias, estudantes e suas famílias só tiveram conhecimento das mudanças curriculares na jornada pedagógica no mês de fevereiro deste ano, no mês de março